"mas nada se passara dizível em palavras escritas ou faladas, era bom aquele sistema que Ulisses inventara: o que não soubesse ou não pudesse dizer, escreveria e lhe daria o papel mudamente - mas dessa vez não havia sequer o que contar."
( Clarice Lispector, "Uma aprendizagem ou Livro dos Prazeres")
Quando, pela vez primeira li este livro, fiquei atônito e perdido, completamente perdido... Clarice é assim, envolve, dissolve, comove e devolve... Foi isso que senti... uma devolução! Ela nos devolve sempre suas ilações e seus fluxos para que possamos continuar os nossos próprios fluxos...A travessia de Lóri, sugerida por Ulisses, traduz a maestria e a não sabedoria que é viver!
Nos deslizamentos de nossas consciências e de nossos sentires, nos vemos trôpegos e, por que não dizer, sôfregos?
Nossos enlaces são assim pedaços de aprendizagens e de não-aprendizagens. Aprendemos e não-aprendemos a amar, a sentir, a viver, a perceber o outro, a nos perceber...
"De Ulisses ela aprendera a ter coragem de ter fé - muita coragem, fé em quê? Na própria fé, que a fé pode ser um grande susto, pode significar cair no abismo, Lóri tinha medo de cair no abismo e segurava-se numa das mãos de Ulisses enquanto a outra mão de Ulisses empurrava-a para o abismo - em breve ela teria que soltar a mão menos forte do que a que a empurrava, e cair, a vida não é de se brincar porque em pleno dia se morre.
A mais premente necessidade de um ser humano era tornar-se um ser humano." (Clarice Lispector, "Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres")
Talvez, esta seja a grande leveza do ser: tornar-se humano...e, nada mais humano do que uma confluência de sentimentos e sentidos...
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